Hoje recebi no meu escritório, no Rio de Janeiro, alguém que considero mais do que um entrevistador: o amigo Hugo Belchior. Conhecemo-nos poucos dias atrás, em Madrid, apresentados por uma amiga em comum—uma daquelas conexões especiais que só nascem quando a vida nos coloca no lugar certo, na hora certa.
Hugo veio ao Brasil gravar uma edição especial do Empreendedores.pt, e tive a honra de ser o entrevistado. O vídeo já está no canal dele, mas achei importante registrar aqui, no meu próprio site, o que essa conversa despertou em mim.
Uma entrevista que virou espelho
Não foi uma entrevista comum. Falar sobre minha história me obrigou a revisitar pontos que, na correria do dia a dia, a gente esquece:
- o acidente que mudou o rumo da minha vida aos 14 anos,
- a depressão que me paralisou por quase dois anos,
- o primeiro computador parado no meu quarto,
- a decisão de me emancipar aos 16,
- e o início da caminhada empreendedora fazendo cartões de visita, imãs de geladeira e pequenos sites.
À medida que respondia as perguntas, percebi que cada fase da minha trajetória segue ancorada nas mesmas três forças: resiliência, relacionamentos e propósito.
Tecnologia, coragem e a obsessão por oportunidades
Contei a Hugo como saí da depressão na adolescência, não por fórmula mágica, mas por cansaço de estar estagnado. Ao montar meu primeiro computador, encontrei algo que não sabia que buscava: a possibilidade de construir.
A entrevista relembrou minhas primeiras aventuras:
✔️ vendendo cartões de visita;
✔️ descobrindo que esmalte de unha fixava a tinta do imã de geladeira;
✔️ fazendo sites HTML estáticos no final dos anos 90;
✔️ abrindo minha primeira empresa de tecnologia sem ter qualquer background acadêmico.
Essa criatividade forçada pela necessidade virou método. E esse método me acompanha até hoje.
Os projetos que mudaram minha vida
Revisitamos também alguns marcos que moldaram minha trajetória:
1. O Wi-Fi nos aeroportos
Em 2012, apostei no que pra muitos parecia impossível no Brasil:
colocar Wi-Fi em Viracopos, Congonhas e Guarulhos.
Assumi o back-office, a integração, o sistema de autenticação e todas as dores do processo.
Foi o projeto que consolidou minha estrutura operacional.
2. A primeira grande virada: concurso público
Em 2009, junto com três professores, lancei a plataforma de videoaulas que se tornou
uma das maiores empresas de concurso do Brasil.
Vivemos o boom.
Vivemos o exit.
Vivemos a auditoria pesada.
Vivemos o impacto de ver um filho crescer — e anos depois, a dor de vê-lo encerrando as atividades.
3. A Didático
Após o período de não concorrência, criei a DidáticoTech, meu laboratório definitivo de tecnologia educacional. Uma plataforma EAD proprietária, construída do zero com tudo aquilo que eu não pude desenvolver nos projetos anteriores.
4. O Gostoso Demais
Talvez o projeto mais improvável da minha vida.
Tudo começou com o canal de Minecraft do meu filho e uma receita gravada da minha esposa.
Em uma semana, 40 mil views.
Em poucos meses, um estúdio de cozinha completo.
Hoje, um canal gigante, uma marca viva, um ecossistema educacional gastronômico.
A entrevista me fez lembrar que algumas das melhores ideias surgem quando não estamos procurando nenhuma.
Sobre relacionamentos: o centro de tudo
Hugo me fez refletir sobre algo que carrego como filosofia de trabalho:
A base dos meus negócios sempre foi gente.
E relacionamento é o ativo mais subestimado do empreendedorismo.
Sempre trabalhei assim:
– chegar antes,
– ouvir mais do que falo,
– valorizar os detalhes,
– cultivar as pessoas,
– e reconhecer minhas próprias limitações.
Foi por isso que tantos negócios surgiram de encontros improváveis — inclusive nossa própria conversa em Madrid.
Ego, humildade e a arte de ouvir
Durante a conversa, percebemos uma verdade incômoda:
o ego é o maior inimigo do empreendedor.
Eu aprendi a me manter no meu lugar dizendo abertamente que:
– não tenho diploma,
– não tenho formação técnica,
– não tenho especialização acadêmica,
– mas tenho consciência do meu papel.
Meu trabalho é escutar, conectar e dar estrutura às ideias.
Essa consciência evita que eu me ache maior do que sou — e evita também ser menor do que posso ser.
E o futuro?
Contei ao Hugo algo que mantenho como filosofia estratégica:
Cada negócio que eu crio nasce com um prazo de maturação:
três anos para vender, escalar ou encerrar.
A Didático é exceção.
Ela é fundação.
É o motor de tudo.
Mas meu movimento agora é claro:
Expandir definitivamente para a Europa e levar o modelo de educação, tecnologia e audiovisual para outros mercados.
Portugal, Espanha e EUA são os próximos capítulos dessa trajetória.
Obrigado, Hugo, por transformar uma simples entrevista em um mergulho interno.
Obrigado por enxergar valor em uma história construída com tropeços, acertos, resiliência e muita fé.
E que este registro — feito hoje, 8 de maio de 2019 — fique como lembrança do dia em que uma conversa simples reacendeu a memória viva do meu próprio caminho

